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ARQUIVO DE JUNHO

IMAGENS INVISÍVEIS
Em 2023 as Jornadas de Junho completam 10 anos, símbolo não apenas do maior ciclo de protestos da história do Brasil, mas também de um tenso enigma que permanece vivo, reaceso por qualquer tentativa de revisitar sua história.

Para muitos, Junho de 2013 representou um marco nas atribulações e reviravoltas da última década, que englobam não apenas a pandemia mundial, mas também revoltas, ocupações, um golpe parlamentar, a ascensão da extrema-direita e o retorno do PT ao governo, bem como o agravamento da crise ambiental. O significado desse período ainda é objeto de disputa, assim como as lições que dele podem ser aprendidas.

É notável, no entanto, a assimetria na recuperação e balanço desse legado. Para a direita brasileira, que atualmente monopoliza as narrativas de indignação popular contra o status quo, tornou-se cada vez mais fácil a simplificação e revisão histórica das Jornadas de Junho, transformada em sinal de um descontentamento com a corrupção e os descaminhos da esquerda. Para a esquerda, o acerto de contas com Junho não é tão fácil e depende da possibilidade de reconstruir a complexidade desse período, na contracorrente das narrativas simplificadoras que transformam os protestos em prelúdio da consolidação da nova direita brasileira.

Porém, essa reconstrução e elaboração bate de frente com a própria natureza e singularidade das Jornadas: muito daquilo que fez de 2013 uma novidade – a dispersão e descentralização das mobilizações, seu caráter nacional, a força das redes e mídias sociais, a explosão de tensões internas às esquerdas – também faz obstáculo a retraçar seus caminhos, facilitando análises redutoras e recortes narrativos que dificultam a compreensão dos desafios que vieram à tona ali e que permanecem conosco hoje.

O projeto Arquivo de Junho é uma oportunidade de explorarmos a dimensão invisível daquilo que ficou conhecido como as Jornadas de Junho, colaborando na construção coletiva de uma memória política da última década através da consolidação de um arquivo digital, de acesso gratuito, de gravações de vídeo feitas em 2013 por todo o Brasil.

O processo de mapeamento, seleção e catalogação das imagens será iniciado ao longo do segundo semestre, em diálogo e colaboração com movimentos, coletivos e quaisquer indivíduos interessados em compartilhar seus registros desse período histórico. Para nós, esse evento começa muito antes de 2013 e se estende além desse ano, cobrindo todo o território nacional, bem como as mais diversas expressões políticas: os conflitos em Belo Monte, as mais diversas greves por todo o Brasil, os enfrentamentos no congresso, depoimentos casuais gravados na rua, marchas campesinas, quilombolas e feministas, as diferentes frentes da luta indígena – do apoio aos Tupinambás na Serra do Padeiro, ao combate dos Guarani Kaiowá – e o que mais possamos encontrar à sombra dessa sequência política. 

Desde o início, a segurança digital e jurídica da plataforma está sendo pensada em conjunto com consultores especializados, e estamos construindo a interface final para que seja possível contar com as descrições adicionadas pelos próprios usuários para aprimorar a estrutura de classificação das imagens, que é como a ferramenta de busca associa termos específicos a cada vídeo. 

Para quaisquer dúvidas ou propostas de colaboração sobre o arquivo:
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