Para muitos, Junho de 2013 representou um marco nas atribulações e reviravoltas da última década, que englobam não apenas a pandemia mundial, mas também revoltas, ocupações, um golpe parlamentar, a ascensão da extrema-direita e o retorno do PT ao governo, bem como o agravamento da crise ambiental. O significado desse período ainda é objeto de disputa, assim como as lições que dele podem ser aprendidas.
É notável, no entanto, a assimetria na recuperação e balanço desse legado. Para a direita brasileira, que atualmente monopoliza as narrativas de indignação popular contra o status quo, tornou-se cada vez mais fácil a simplificação e revisão histórica das Jornadas de Junho, transformada em sinal de um descontentamento com a corrupção e os descaminhos da esquerda. Para a esquerda, o acerto de contas com Junho não é tão fácil e depende da possibilidade de reconstruir a complexidade desse período, na contracorrente das narrativas simplificadoras que transformam os protestos em prelúdio da consolidação da nova direita brasileira.
Porém, essa reconstrução e elaboração bate de frente com a própria natureza e singularidade das Jornadas: muito daquilo que fez de 2013 uma novidade – a dispersão e descentralização das mobilizações, seu caráter nacional, a força das redes e mídias sociais, a explosão de tensões internas às esquerdas – também faz obstáculo a retraçar seus caminhos, facilitando análises redutoras e recortes narrativos que dificultam a compreensão dos desafios que vieram à tona ali e que permanecem conosco hoje.
O processo de mapeamento, seleção e catalogação das imagens será iniciado ao longo do segundo semestre, em diálogo e colaboração com movimentos, coletivos e quaisquer indivíduos interessados em compartilhar seus registros desse período histórico. Para nós, esse evento começa muito antes de 2013 e se estende além desse ano, cobrindo todo o território nacional, bem como as mais diversas expressões políticas: os conflitos em Belo Monte, as mais diversas greves por todo o Brasil, os enfrentamentos no congresso, depoimentos casuais gravados na rua, marchas campesinas, quilombolas e feministas, as diferentes frentes da luta indígena – do apoio aos Tupinambás na Serra do Padeiro, ao combate dos Guarani Kaiowá – e o que mais possamos encontrar à sombra dessa sequência política.
Desde o início, a segurança digital e jurídica da plataforma está sendo pensada em conjunto com consultores especializados, e estamos construindo a interface final para que seja possível contar com as descrições adicionadas pelos próprios usuários para aprimorar a estrutura de classificação das imagens, que é como a ferramenta de busca associa termos específicos a cada vídeo.